A incontinência urinária é uma condição que afeta dramaticamente a qualidade de vida, comprometendo o bem-estar físico, emocional, psicológico e social.
A incontinência urinária pode acometer indivíduos de todas as idades, de ambos os sexos e de todos os níveis sociais e econômicos.
Normalmente existe uma perfeita coordenação entre a bexiga e o esfíncter (músculo que funciona como uma válvula que fecha a uretra, impedindo a saída da urina). A maioria das pessoas possui completo controle sobre esse processo, permitindo o enchimento da bexiga entre 400 ml e 500 ml, sem que ocorram perdas urinárias. Na fase de enchimento, a bexiga está relaxada e o esfíncter contraído. Na fase de esvaziamento da bexiga, é necessária uma perfeita coordenação entre a contração do músculo da bexiga e o relaxamento do esfíncter. Esta coordenação é chamada de sinergismo vesicoesfincteriano.
Incontinência urinária nas mulheres
Milhões de mulheres no Brasil e em todo o mundo sofrem deste problema que causa a perda involuntária de urina e pode interferir nas suas atividades e na sua qualidade de vida. Uma vez que a incontinência urinária é um sintoma, é importante informar ao médico quando ocorre. Uma avaliação bem feita pode determinar a causa da incontinência.
As informações a seguir ajudam a entender melhor os sintomas, o diagnóstico e tratamento do problema.
Quem é afetado e quais os motivos
Estima-se que mais de 8 milhões de brasileiros tenham incontinência urinária, problema que pode acometer homens e mulheres de todas as idades, raças e níveis socioeconômicos. Entre as pessoas com idade superior a 60 anos, acredita-se que de 30 a 60% tenham incontinência. Mulheres são mais predispostas do que homens. Entre os idosos que vivem em casas de repouso pelo menos 50% apresentam incontinência urinária.
O número exato de pessoas com incontinência urinária não é conhecido, mas pode superar bastante as estimativas citadas. Diferentes doenças podem causar os sintomas. Algumas delas são transitórias e facilmente tratáveis, como infecções urinárias e vaginais, efeitos colaterais de medicamentos e constipação intestinal, mas outras causas podem ser duradouras ou permanentes.
Entre elas destacam-se doenças como a bexiga hiperativa, fraqueza dos músculos que sustentam a bexiga (bexiga caída e incontinência urinária de esforço), fraqueza do músculo esfincteriano que envolve a uretra, defeitos de nascimento, doenças e lesões da medula, cirurgias sobre a bexiga, órgãos genitais femininos e outros órgãos pélvicos, doenças que afetam os nervos ou músculos (derrame cerebral, esclerose múltipla, poliomielite, distrofia muscular etc.). Em alguns pacientes mais de uma causa podem estar presentes.
Causas da incontinência
- Infecções urinárias ou vaginais.
- Efeitos colaterais de medicamentos.
- Constipação intestinal.
- Fraqueza de alguns músculos.
- Obstrução da uretra pelo aumento da próstata.
- Doenças que afetam os nervos ou músculos.
- Alguns tipos de cirurgia ginecológica e outras.
Para a maioria das pacientes, a incontinência não é somente um problema médico, afetando também seu bem-estar emocional, psicológico e social. Muitas deixam de realizar atividades cotidianas que possam afastá-las do banheiro por algum tempo. Por esta razão, é muito importante saber que a grande maioria das causas de incontinência pode ser tratada com sucesso.
Diferenças entre os vários tipos de incontinência
Classifica-se a incontinência pelos sintomas ou pelas circunstâncias que ocorrem no momento da perda de urina. A seguir descrevemos os tipos mais comuns:
Incontinência de esforço – Pode ser devida à fraqueza dos músculos pélvicos que dão suporte à bexiga ou à fraqueza ou lesão do esfíncter uretral. Nesta circunstância pode ocorrer vazamento de urina quando você faz qualquer atividade que força o abdômen, como tossir, espirrar, dar risada, carregar peso ou até mesmo andar. Algumas pacientes vão com muita frequência ao banheiro para manter a bexiga sempre vazia e diminuir a chance de acidentes. Muitas evitam exercícios físicos com o mesmo objetivo. A maioria permanece seca à noite, mas podem molhar-se ao levantarem para ir ao banheiro.
A incontinência de esforço ocorre frequentemente em mulheres com fraqueza dos músculos do assoalho pélvico e frequentemente pode haver prolapso da bexiga, útero ou intestino (“bexiga caída”). É mais frequente em mulheres que tiveram partos vaginais, embora possa ocorrer também em mulheres que tiveram seus filhos por cesariana e até mesmo em mulheres que nunca tiveram filhos.
Em homens, a incontinência de esforço é geralmente causada por cirurgias ou traumatismos da próstata e uretra.
Urge-incontinência – Resulta quando a bexiga contrai-se sem a sua vontade e por isso também recebe o nome de bexiga hiperativa. Você pode ter a sensação de que precisa correr para o banheiro, mas muitas vezes não consegue chegar a tempo de evitar o escape de urina. Por vezes pode perder urina sem que haja nenhum sinal antes. Algumas pacientes vão ao banheiro com intervalos muito curtos e acordam várias vezes durante o sono para esvaziar a bexiga.
A bexiga pode tornar-se hiperativa devido a uma infecção que inflame a sua superfície interna. Os nervos que normalmente controlam a bexiga também podem ser responsáveis pela hiperatividade vesical. Pacientes com doenças neurológicas frequentemente apresentam incontinência urinária como resultado da perda do controle normal sobre os nervos da bexiga. Em muitos casos, entretanto, a causa pode ser indeterminada.
Incontinência mista – Corresponde à combinação dos dois tipos de incontinência descritos acima (de esforço e urge-incontinência).
Incontinência por fístula urinária – A fístula urinária é uma comunicação anômala entre um órgão do trato urinário (geralmente a bexiga, mas podendo também envolver os ureteres) e a vagina (raramente a comunicação pode ser com a uretra, útero ou intestino). Estas comunicações anômalas são geralmente resultado de um procedimento cirúrgico prévio, processos inflamatórios, traumatismos ou irradiação. A incontinência geralmente é contínua e muito severa, pois a paciente permanece com gotejamento contínuo de urina. A investigação destes casos requer exames de imagem e endoscópicos e a correção geralmente requer cirurgia.
Incontinência urinária e distúrbios da micção após cirurgias ginecológicas e outras – Pacientes com incontinência urinária e outros distúrbios da micção que procuram um urologista para tratamento frequentemente já foram submetidas a algum tipo de cirurgia pélvica ou ginecológica. Na maior parte das vezes estas cirurgias prévias não têm qualquer relação com os sintomas atuais. Por vezes, entretanto, estas cirurgias podem contribuir para os sintomas atuais e até mesmo ser responsáveis por eles. Cirurgias para retirada de tumores ginecológicos podem afetar a integridade dos nervos que vão para a bexiga e propiciar um distúrbio no controle voluntário da mesma. Outras cirurgias podem afetar a integridade do esfíncter uretral, enfraquecendo-o e facilitando a perda de urina. As fístulas urinárias também podem ser resultantes de cirurgias ginecológicas. A radioterapia pélvica também pode exercer efeitos semelhantes sobre a bexiga e o esfíncter até anos após a sua realização. Mesmo cirurgias para correção de incontinência urinária podem agravar os sintomas de algumas pacientes, com piora da intensidade das perdas ou com o aparecimento de dificuldade para urinar após a cirurgia.
Incontinência por transbordamento – Ocorre quando a bexiga fica tão cheia que chega a transbordar. Pode ser causada pelo enfraquecimento do músculo da bexiga ou pela obstrução à saída de urina. O aumento da próstata pode resultar nesta obstrução. Por esta razão, este tipo de incontinência é mais frequente em homens. Enfraquecimento do músculo da bexiga pode ocorrer tanto em homens como em mulheres, mas ocorre principalmente em pacientes com diabetes, etilistas crônicos e alguns tipos de distúrbios neurológicos.
Incontinência ambiental ou funcional – Ocorre quando a pessoa não consegue chegar ao banheiro ou não tem acesso a um urinol quando precisa. Nestes casos, embora o sistema urinário funcione bem, limitações físicas, mentais ou outras circunstâncias impedem que a pessoa utilize normalmente o banheiro.
Enurese noturna – É a incontinência que ocorre durante o sono. O exemplo mais típico é o da criança que faz xixi na cama. Embora a maioria das crianças já tenha aprendido a controlar a micção em torno dos três aos quatro anos de idade, considera-se normal que algumas crianças ainda urinem na cama até os cinco ou seis anos.
Alguns indivíduos podem ter duas ou mais causas de incontinência. Nestes casos, as causas devem ser estudadas e determinadas para que se estabeleça um plano adequado de tratamento.
Exames para diagnóstico da incontinência
O primeiro passo na investigação da incontinência urinária é procurar um médico e informá-lo sobre sua história médica e a forma como os sintomas afetam sua vida. Para isto, é importante você informar:
- Todos os medicamentos que está usando atualmente.
- Datas e resultados de todos os exames e cirurgias por que você passou que estejam relacionados à bexiga.
- Hábitos de micção (criando um diário miccional).
Dependendo do tipo e das causas possíveis da sua incontinência, alguns dos exames descritos a seguir poderão ser solicitados pelo seu médico para ajudar a diagnosticar com precisão a causa da incontinência e permitir a elaboração de um plano de tratamento apropriado.
- Exame de urina – Você será solicitado a colher uma amostra de urina que será examinada para pesquisar a presença de infecção, sangue e outras anormalidades.
- Medida do resíduo miccional – Este exame é realizado para saber se alguma quantidade de urina sobra na bexiga após a pessoa terminar de urinar. Isto pode ser feito através da inserção de um tubo flexível de plástico fino (chamado cateter) pela uretra até a bexiga para esvaziá-la completamente. Outro método que pode ser utilizado é a medição com aparelho de ultrassom.
- Ultrassom – Pode avaliar o tamanho, a forma e outras características dos rins, da próstata e da bexiga.
- Cistoscopia – Consiste na inserção de um aparelho ótico fino através da uretra até a bexiga (ilustração). Permite ao urologista avaliar as características internas da uretra e da bexiga.
- Teste de esforço – Com a bexiga parcialmente cheia, você é solicitada a tossir, ficar em pé, fazer força na barriga ou outras atividades para determinar se as mesmas causam perda de urina e com que intensidade.
- Exame urodinâmico – Avalia as funções da bexiga e do esfíncter. Usando diferentes modalidades de investigação, o examinador estuda a sensibilidade de sua bexiga, a sua capacidade de armazenar urina e a eficiência com que ela se esvazia. Pode-se determinar ainda se a bexiga está obstruída e se o esfíncter está enfraquecido. Os resultados deste exame muitas vezes são importantes para orientar sobre a necessidade ou não de uma cirurgia.
Fonte:
https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/hospital/especialidades/nucleo-avancado-urologia/Paginas/incontinencia-urinaria-feminina.aspx