Doença crônica que não tem cura, mas é possível controlar seus sintomas.
Síndrome da bexiga dolorosa, cistite intersticial e síndrome da dor pélvica crônica são os diversos nomes atribuídos a um mesmo problema. A doença é definida como a sensação desagradável (dor, pressão, desconforto) relacionada à bexiga – principalmente quando ela está cheia.
O problema pode estar associado ou não a vários sintomas como:
– dificuldade de urinar;
– urgência urinária;
– aumento na frequência de urinar dia e noite (obrigando as pessoas a levantar-se muitas vezes à noite).
Se você tem dor pélvica crônica, infecções urinárias recorrentes ou bexiga com comportamento hiperativo que não se resolve com tratamento adequado, você pode ser mais um entre milhões de pacientes que sofrem da síndrome da bexiga dolorosa e não estar recebendo tratamento ou estar recebendo o tratamento incorreto e com isso prolongando o seu sofrimento por anos.
O problema classicamente se caracteriza por dor na bexiga, a urgência e a frequência urinária por mais de seis meses. Pode ocorrer em homens e mulheres, sendo 9 vezes mais frequente no sexo feminino. Como os sintomas são parecidos aos da cistite, mesmo com culturas de urina negativas, muitos pacientes recebem repetidos tratamentos com antibióticos para infecção urinária desnecessários, retardando o correto diagnóstico.
Cabe lembrar que, mulheres com cistite intersticial podem ter episódios de infecção urinária confirmada e assim necessitar de tratamento com antibiótico.
Característica principal é a dor
A dor é o elemento central e pode ser percebida em diversas áreas da região pélvica. Adicionalmente, a dor, que pode ser mais ou menos severa, traz muitos momentos de irritabilidade, intolerância e aflição. Muitos pacientes relatam a sensação de punhalada ou alfinetadas, outros como se a bexiga tivesse deslocada para fora da bacia.
“Se você tem dor pélvica crônica, infecções urinárias recorrentes ou bexiga com comportamento hiperativo que não se resolve com tratamento adequado, você pode ser mais um entre milhões de pacientes que sofrem da síndrome da bexiga dolorosa”
A dor pode ocorrer no ventre, na região lombar e sacra, uretra, vagina, testículos, bolsa escrotal, períneo ou ainda durante a relação sexual e ejaculação. Esta dor pode durar horas, dias, semanas, pode piorar com a ingestão de certos alimentos, bebidas e com o próprio enchimento vesical e ainda pode melhorar quando urina. Alguns pacientes relatam mais pressão do que dor.
A urgência é entendida como a necessidade de ir ao banheiro, e muitos pacientes o fazem mais de 60 vezes em 24 horas. Ir ao banheiro urinar define a necessidade de se livrar do desconforto que, certamente, determina a frequência urinária aumentada nesses pacientes.
Sabe-se que essa condição resulta em baixa qualidade de vida, com importante impacto nas atividades diárias e também no sono, nas relações sexuais, nos relacionamentos interpessoais e familiares. Resulta também em quadros de ansiedade, depressão, estresse e, em casos mais graves, de desemprego.
É importante entender que se trata de uma doença crônica cujas causas ainda não são totalmente conhecidas – apesar de serem muito estudadas. A teoria mais aceita atualmente é que este “aumento de sensibilidade vesical” seria uma manifestação de um estado de hipersensibilidade a estímulos.
Diagnóstico da doença
O correto diagnóstico da cistite intersticial costuma oferecer significativo alivio dos sintomas e melhora da qualidade de vida. Ele é feito clinicamente. Contudo, podem ser indicados exames complementares para excluírem-se doenças com sintomas semelhantes – infecção urinária, disfunções miccionais, cálculos urinários (renais ou na bexiga), endometriose, infecção ginecológica e alguns tipos de cânceres urológicos.
“Tente identificar e controlar fatores que façam os sintomas aparecerem ou piorarem – chamamos de ‘fatores desencadeantes”
Não existe nenhum exame específico que vá confirmar com total certeza este diagnóstico e muitas vezes leva-se tempo até a conclusão. Na maioria das vezes são necessárias paciência e disciplina, pois o diagnóstico é estabelecido conforme o quadro clínico se desenvolve. Por se tratar de uma doença crônica, ainda não há cura, e sim opções para controle dos sintomas.
A característica marcante é a evolução em períodos de crise e períodos de calmaria (remissão). Este entendimento é essencial e a educação e promoção da autonomia do paciente é o passo inicial e a base para o sucesso do tratamento.
O primeiro passo é entender sobre esta condição. Pesquise (porém, tenha cuidado nas fontes que você encontrará na internet – certifique-se de que a fonte é confiável), pergunte ao seu médico, esclareça dúvidas. Converse com outras pessoas que também estão passando por esta situação (os grupos de apoio são excelentes). Existem muitos casos como o seu (muito mais do que você imagina).
Tratamentos
Em relação ao tratamento, pense em uma escada, com diversos degraus. Assim consideramos o tratamento, com diversas opções que podem ser utilizadas em diversos momentos – pense em evoluir no tratamento como subir os degraus de uma escada, um de cada vez.
Tente identificar e controlar fatores que façam os sintomas aparecerem ou piorarem – chamamos de “fatores desencadeantes”. Os principais são: estresse, hábitos alimentares (bebidas alcoólicas, bebidas e alimentos contendo cafeína, alimentos apimentados ou cítricos, refrigerantes, soja), cigarro e relações sexuais.
Assuma o controle. Você vai aprender a identificar a crise e seu médico irá orientá-lo como tratar incialmente os sintomas. Técnicas de relaxamento e redução de estresse têm se mostrado benéficas, tendo em vista que a principal causa das crises ainda é o estresse. Por exemplo, você pode tentar meditação, ioga, pilates, fisioterapia para relaxamento pélvico ou psicoterapia.
Evite os alimentos e hábitos que você relaciona à piora dos sintomas! Como demais opções, existem medicamentos orais, intravesicais (colocados dentro da bexiga) e, em último caso, tratamento cirúrgico. Lembre-se de que sempre há opções (pense nos degraus da escada do tratamento) e, se um tratamento não está sendo completamente eficaz para você, o seu médico poderá mudar a abordagem e adotar outra opção – e ele discutirá com você isso a cada consulta de revisão.
A abordagem desta condição é extremamente individualizada e pessoal. Não se trata do “melhor remédio”, “do melhor tratamento”, e sim “do melhor remédio e do melhor tratamento para você”.
Dr. Jorge Antônio Pastro Noronha – Porto Alegre, RS
Drª. Franscine Gerson Carvalho – Porto Alegre, RS
Fonte: Portal da Urologia